quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Aquela tática

Bastava colocar a cabeça no travesseiro. Até alguns segundos antes, a sensaçao estava ali, mas se tornava muito menos suportável quando ela se enrolava nas cobertas e fazia o clic da luminária. Era como ter engolido um gato que ficou preso com as garras em sua garganta. Um nó constante, impalpável e frio.

Ficava longos minutos com os olhos vidrados em algum ponto da janela do quarto, enquanto seus pensamentos discutiam entre si. Estava tao atordoada, que ao mesmo tempo em que tentava encontrar uma saída para acabar com aquele sentimento que a incomodava tanto, notava que precisava lavar as cortinas. E dando-se conta da distraçao, tentava se concentrar outra vez em seu pensamento labiríntico.

Clarissa já estava farta de clichês. Nao queria mais ouvir incontáveis “sao coisas da vida”. Vida? Começou a repensar no que tinha feito ao longo daqueles 26 anos e era tanta mudança que no fim das contas nao chegou a conclusao nenhuma.
“Que coisa mais chata tudo isso, pensou, quero ir embora”.

Fechou os olhos e imaginou, da forma mais intensa que conseguiu, estar bem longe daquele turbilhao de sentimentos. E no transe entre o sono e a realidade, ela se viu olhando fixamente para as próprias maos. Tinham ensinado pra ela que conseguir ver a imagem das maos durante o sono era caminho certo para o controle total do que se deseja sonhar.

“Quem sabe por aqui eu possa experimentar outros pontos finais”.